Entrevista com Celso Viáfora


Celso Viáfora é um grande cantor, compositor, músico de primeira linha e verdadeiramente talentoso. 

Tenho o prazer de mostrar nosso bate-papo para todos vocês. Nele, Celso fala de sua amizade com Vicente Barreto e Ivan Lins, conta histórias do Carnaval do Rio e ainda fala sobre seu sucesso fora do país. Fiquem na sequência com a entrevista.

Renato Galvão – Celso, você é de que região do país?
Celso Viáfora – Sou de São Paulo, capital. Nasci bem no Centro da cidade, no bairro da Luz. Mas tenho, na minha música, além das coisas que São Paulo me ensinou, um bom pedaço das coisas que ouvi no interior (passei muitas férias de julho na fazenda de um tio, em Caiuá, oeste do Estado, já perto da divisa com o Mato Grosso do Sul), do samba carioca (minhas férias de verão passava na casa da tia Angelina, sobretudo os carnavais, que me deram de presente a paixão pelo Salgueiro a quem assisti pela primeira vez aos 14 anos, no bi-campeonato de 1975, com "As Minas do rei Salomão") e da música amazônica (onde minha carreira tem, da parte do público, um carinho e atenção bastante especiais).

Renato Galvão – Além de compositor e cantor, ainda é arranjador?
Celso Viáfora – Pois é. Num dos primeiros festivais de que participei, conheci o Amilson Godoy (meu padrinho artístico e, depois, de casamento). Ele me convenceu a estudar música. Na época, de manhã fazia Direito na USP e, à noite, ia bater em São Caetano do Sul, para estudar teoria musical na Fundação das Artes. Depois disso, fiz o curso de arranjo com o Nelson Ayres no Conservatório do Brooklin. Por conta disso, às vezes me meto a escrever alguns arranjos. Inclusive de cordas. Mas só pros meus discos.

Renato Galvão – Seu primeiro disco lançado foi quando e queria saber a história da canção "Não vou sair".
Celso Viáfora – Meu primeiro disco foi coletivo. Saiu pela Copacabana em 1.985. Chama-se "Trocando Figura" e tem a companhia dos parceiros e amigos Cesar Brunetti e Jean & Paulo Garfunkel, com produção do Eduardo Gudin e do Hélton Altman. "Não Vou Sair" foi criada em 86. Perdi, por um tempo, alguns amigos queridos que se mandaram para Europa, Japão, EUA e Canadá para fugir do exílio econômico que procedeu ao exílio político. Fiz para eles e para minha preguiça em largar esse nosso paraíso mau tratado. Por preguiça, pode-se, também, entender uma certa covardia para tentar a sorte lá fora ou alguma coragem para tentar mudar as coisas aqui dentro. O Nílson Chaves ia gravar, naquele disco "Sabor", outra música minha ("Arte"). Aí fomos tocar em Belém, a música fez lá a sua estréia e, para minha sorte, o Nilson trocou de música e eu ganhei dele o meu primeiro sucesso como compositor.

Renato Galvão – O que eu sinto nas suas músicas, é que você canta o samba, algo mais romântico sempre da mesma forma. Você segue um padrão na melodia, nas letras?
Celso Viáfora – Não conscientemente. Talvez, depois de tantos anos fazendo isso, possa ter conseguido uma certa digital. Mas, para falar a verdade, o que me move a fazer música é encontrar uma frase, um acorde, um tema ou seja lá o que for que, de alguma maneira, me pareça diferente de tudo o que já fiz.

Renato Galvão – Queria que você citasse alguns de seus parceiros, e falasse de seus inúmeros sucessos com o também compositor Vicente Barreto.
Celso Viáfora – Tenho vários parceiros. Durante alguns anos, só fiz músicas sozinho. Em seguida, passei a compor também com o Vicente Barreto. A partir de 2000 veio o Ivan Lins. Eles dois são os parceiros mais freqüentes. De uns tempos para cá, como música passou a ser, para mim, um compartilhar de forças positivas e uma manifestação de amizade, virei um compositor bem mais promíscuo. Tenho músicas com o Francis Hime, o Eduardo Gudin, o Guinga, Luiz Carlos da Vila, Miltinho (do MPB-4), Nilson Chaves, Tavito, a Lucina, o Guilherme Rondon, Jorge Hélder, Joãozinho Gomes, Rafael Altério, os mineiros Sérgio Santos, Flávio Henrique e Vitor Santana; o Chico Saraiva, Alexandre Lemos, Arismar do Espírito Santo, Ronen Altman, Vasco de Brito, que mora no Japão; tenho um parceiro argentino, o Beto Calletti; um parceiro norte-americano, o David Finck; um parceiro italiano, o Ivano Fossatti; um parceiro português, o Beto Betuk; tenho um samba com o Elton Medeiros e o Hermínio Bello de Carvalho; um outro samba com o Aluisio Falcão e o Carlos Henry e mais algumas canções com a moçada que vem chegando com tudo, como o Fred Camacho, o Cahê Rolfsen, o Zé Edu Camargo, o Pedro Altério, o Sonekka e o meu filho, Pedro Viáfora. E olha que, quase com certeza, devo ter esqucido alguém. O Vicente foi meu primeiro parceiro mais constante. Pra ele, chego a pensar em temas e abordagens específicas. Com ele, aprendi a procurar a minha mão direita no violão. Um dia ele veio morar no meu prédio e a gente passou a compor com menor intensidade. Vai explicar, mas estamos voltando com força: deixando de tomar, juntos, tanta cerveja no quintal do prédio para, juntos, trabalharmos novas canções. 

Renato Galvão – A música "Por um fio" realmente tem alguma coisa a ver com o Carnaval do Rio?
Celso Viáfora – Completamente. Sou salgueirense fanático. Hoje, inclusive, tenho carteira da Ala dos Compositores mas, naquela época, era apenas torcedor. De arquibancada. Pois estava lá, no desfile de 93, aquele em que arrasamos com o "Peguei o Ita" (Explode coração / na maior felicidade...). A avenida toda tomada pelo desfile do Salgueiro, o carnaval já ganho e, quase na minha frente, um câmera-man, tentando captar o melhor ângulo da Taninha, a porta-bandeira, deixou o cabo no caminho dela que tropeçou e caiu. Aquilo podia ter matado o campeonato da escola. Mas, por sorte, mesmo perdendo pontos, ganhamos. Na volta para São Paulo, passada a vontade de enforcar o câmera e o dono da televisão com aquele cabo, o Vicente me deu a melodia do samba e eu o achei a cara daquela história. E fiz a letra.

Renato Galvão – Na sua opinião, porque pessoas talentosas como você aparecem somente em veículos segmentados, onde o povo em si não consegue conhecer plenamente seu trabalho?
Celso Viáfora – Existem duas coisas distintas: a atividade artística e a indústria do entretenimento. Há um tempo atrás, ambas se confundiam bastante. Hoje muito pouco. O que não impede que, algumas vezes, um artista crie uma obra que atenda aos dois segmentos. Consigo ver pessoas muito talentosas na grande mídia. São pessoas em quem, por algum motivo especial, a indústria resolveu apostar. Outras, por motivos igualmente especiais, não conseguem essa atenção. Agora, para estar na grande mídia não tem outro jeito: tem que ter investimento. As rádios do chamado "mercadão" só tocam o que é pago para tocar. Então, aquelas pessoas que não interessam permanecem segmentadas. Mas dá para tornar viável uma carreira com base nos veículos que trabalham nesse sentido. O problema não é a segmentação. A grande questão é a exclusão a que estariam sujeitas as novas gerações. Mas, para isso, os deuses da música criaram a Internet e suas múltiplas formas de divulgação. Para romper com a exclusão. Ainda que essas novas gerações, na sua grande maioria, após toda essa revolução, devam permanecer presas à segmentação. Mas, como já disse, dá pra tornar viável uma carreira com base nos veículos segmentados.

Renato Galvão – Me fale do seu sucesso no Japão?
Celso Viáfora – Nem é tanto assim, esse sucesso. Mas, para minha surpresa, lançaram uma coletânea com músicas de três discos meus ( "Cara do Brasil", "Basta Um Tambor Bater" e "Palavra"), com o título "A Carreira de Celso Viáfora" e o CD foi bem. Então me pediram um novo trabalho e eu (que não sou bobo nem nada), chamei o parceiro Ivan Lins e juntos fizemos o disco "Nossas Canções", só com músicas de nossa parceria.

Renato Galvão – Para shows, como o público pode te achar, seu site para verem seu trabalho e muito grato pela entrevista.
Celso Viáfora – É só acessar o site, www.celsoviafora.com.br ou me contatar através do email celsoviafora@uol.com.br. Obrigado a você pela força e atenção para com o meu trabalho.