Entrevista com João Leite Neto

João Leite Neto, é conhecido por todos. Jornalista, apresentador de televisão e rádio, editor, ex-deputado federal por São Paulo e foi presidente da Cosesp, uma das maiores estatais do Estado.


Renato Galvão - De onde o senhor é natural?
João Leite Neto - Eu sou natural de uma pequena cidade no sudoeste do Estado de São Paulo, chamada Itaporanga, onde permaneci apenas até os dois anos de idade, quando meu pai foi transferido para Itapeva (meu pai era delegado). Em Itapeva me criei até os 16 anos, quando a família se mudou para São Paulo.

Renato Galvão - São quantos anos de jornalismo, e por onde passou durante esse período?
João Leite Neto - Iniciei no jornalismo muito cedo, com 17 anos, como "foca" do jornal Última Hora de Samuel Wainer. Era ainda, estudante secundarista. Depois passei pelos Diários Associados, Folha de S. Paulo e Revista Edição Extra.
No Última Hora foi no ano de 1964, portanto 43 anos de profissão. Depois do período da imprensa impressa, fui para a eletrônica: Rádio Tupi, Rádio Marconi, Rádio Nacional e, em 1970, fui contratado pela Rede Globo de Televisão que acabava de se instalar em São Paulo. Fui o primeiro repórter do Jornal Nacional (São Paulo). Fiquei na Globo por 10 anos, saíndo em meados dos anos 80 para ser candidato à Deputado Estadual, antigo MDB, pelas mãos de Franco Montoro e Mário Covas. Senão me engano, fui o segundo mais novo deputado da Assembléia, na ocasião, eu tinha pouco mais de 30 anos.

Renato Galvão - Por ser jornalista, ex-deputado, âncora de tv, a preocupação com o país é evidente?
João Leite Neto - Com relação as minhas preocupações com o país, como não poderia deixar de ser, são muitas. Porém, com relação ao Brasil, não me envergonho em me declarar ''ufanista''. Este, apesar de tudo, é o maior país do mundo, e lhe está reservado o maior papel no futuro. Não tenha dúvida disso. Além do mais, Deus é Brasileiro. Viu só o petroleo de Santos? Não poderia ser em melhor hora. E você ainda dúvida que Deus seja brasileiríssimo? Claro que pela minha origem política, nunca fui Lulista, muito menos petista mas, temos de admitir que não está sendo dos piores. Só não foi melhor do que o do FHC, onde tudo começou (plano real, controle de inflação etc). O Lula pelo menos teve a humildade de dar sequência ao plano econômico, e não se meteu a criar novos "milagres" econômicos.

Renato Galvão - Quando foi seu mandato de deputado-federal, e as principais ações desenvolvidas?
João Leite Neto - Como já disse, cheguei a Assembléia Legislativa, muito jovem, pouca experiência, e com uma missão principal - fiscalizar os desmandos (será que só desmandos?) do famigerado governo Maluf. Nessa missão parece que me sai bem, pois o homem não me pode ver pintado. Com muito esforço (pois era oposição), consegui emplacar alguns projetos, principalmente na área de segurança pública, onde destaco a "Cidade Penitenciária", um projeto que, ainda hoje, percorre gavetas da assembléia, e não permitem que seja aprovado. Um dia darei maiores detalhes a você.

Renato Galvão - Como chegou a presidência da Cosesp?
João Leite Neto - Cheguei a Cosesp, como presidente, escolhido pelo meu querido amigo Mário Covas. Acredito ter feito um bom trabalho. A Cosesp era muito grande. Só para se ter uma idéia, era a quarta estatal do estado, um negócio enorme. Mas valeu a pena. Observe você que, mesmo quando deputado, superintendente do IBAMA, presidente da Cosesp e outras funções oficiais que ocupei, nunca deixei de lado o jornalismo. Você deve se lembrar que, como Presidente da Cosesp, diariamente eu apresentava o "Cidade Alerta". Não só por paixão pela profissão, mas principalmente, para ter independência econômica e não precisar me igualar a certos políticos que confundem o próprio bolso, com o "bolso público". Aliás, esse tipo de comportamento não poderia nunca existir no Governo Mário Covas.

Renato Galvão - O senhor era muito amigo do saudoso governador Mário Covas. Quando começou essa amizade?
João Leite Neto - Minha amizade com o Mário Covas, tanto política como pessoal, remonta os idos de 69. Inicialmente um relacionamento profissional que foi se aprofundando, chegando a uma pofunda amizade pessoal e familiar, que cultuo até hoje.

Renato Galvão - Em 1.998, veio sua candidatura para o Senado. Seu slogan era ''O candidato do Fernando Henrique''. Na ocasião, Eduardo Suplicy, do PT, que se tornaria Senador, e Oscar do Basquete, pelo PPB, tiveram mais votos que o senhor. Se arreprende daquela candidatura?
João Leite Neto - Quanto as minhas candidaturas ao Senado, foram duas. Não me arrependo um só momento. Pelo contrário. Nas duas oportunidades obtive mais de 3 milhões de votos. Sabe o que é isso? E disputei com o PT de Suplicy, com toda a militância apaixonada, e a avalanche de grana do Valerioduto. De outro lado estava o Oscar do basquete com a mala preta do Maluf. É mole? Mesmo assim, um simples jornalista, sem estrutura de campanha, sem grana quase nenhuma, disputar em igualdade e obter mais de 3 milhões de votos e poder ajudar significativamente a reeleição do amigo? Para mim foi um marco em minha vida. Nunca podia imaginar que tivesse tantos amigos e eleitores. Amigos que participaram da campanha a custo zero, nem gasolina dos carros cobravam. Esses 3 milhões de votos, nessas condições, valem no mínimo, o dobro. Como dizia o meu querido Covas: "É muito mais o que você merece".

Renato Galvão - Seu maior sucesso na televisão foi o Cidade Alerta, exibido na TV Record?
João Leite Neto - Não sei se o maior sucesso tenha sido na Record. Acho que foi o mais recente, por isso ainda está na memória popular. Acredito que a passagem pela Globo tenha sido muito boa. Tanto é que me elegi deputado sem muito esforço. Mas faz muito anos.

Renato Galvão - Pretende voltar para a televisão?
João Leite Neto - Tenho sim alguns projetos para voltar a TV. Ainda na semana passada, tive uma longa conversa com o Silvio Santos. Acabou de concluir a montagem de um micro-ônibus, com todo equipamento em digital, para futuras reportagens. Mais ou menos aquilo que a Globo fez com um ônibus para o Jornal Nacional, só que em menores proporções. Aguardem!

Renato Galvão - Como está sua vida hoje? Projetos, família, hobbys?
João Leite Neto - Minha vida hoje está estabilizada, fora o espírito de repórter que não adormece nunca. Atualmente administro, juntamente com minha mulher Valéria, também jornalista, e meus filhos algumas empresinhas da família. Temos uma fazenda em Itapeva (Agropecuária São Rafael), temos um hotel (Country Hotel São Rafael), a JLN (empresa-mãe) é uma produtora jornalística, a Quanta-Soluções em Comunicação, é dirigida pelo filho Luís e minha nora Cleide (também jornalista), a Marketing TV, que é dirigida pelo filho Alexandre e a nora Kelly e, mais recentemente, inauguramos um Bar e Restaurante chamado ''Santo Espetinho", aqui mesmo em Alphaville, onde moramos. Aliás, você está convidado para um choppinho, dos bons!

Renato Galvão - Cada vez mais, as faculdades formam novos jornalistas. Para finalizar gostaria de saber sua opinião, sobre o jornalismo. O caminho do jornalista hoje qual é, já que o mercado de trabalho, oferece cada vez menos oportunidades?
João Leite Neto - Quanto ao nosso mercado de trabalho, é uma preocupação permanente. Veja só: Qualquer outra profissão tem um mercado que aumenta, quase que diariamente e consegue absorver em parte, a mão-de-obra que se forma. No nosso caso, não. Não é todo ano, nem mês, nem mesmo décadas, que surgem novos orgãos de imprensa. A situação é calamitosa. As faculdades (e são muitas) jogam no mercado centenas de jornalistas todos os anos. Agora mesmo, na USP, o curso mais procurado foi o de jornalismo. Será que essa gente desconhece a realidade de nosso mercado? O pior de tudo é que não há muito a fazer. A não ser uma idéia maluca que, através de lei, obrigue as empresas com mais de 200 funcionários, a terem uma assessoria de imprensa. Já pensou?